A bicharada estava em alvoroço, pois todos haviam recebido um convite para a grande festa no céu, porém somente as aves estavam tranquilas, pois eram as únicas que tinham asas e poderiam atingi-lo facilmente. O céu já estava preparado para a grande festa: os salões dourados já estavam ornados com flores frescas; os tapetes de nuvens, alvos e macios; as harpas, afinadas e a lua, que já havia dado as últimas instruções às inúmeras estrelas reluzentes para que não faltasse brilho à ocasião, já havia colocado os eu vestido de noite. Na terra, porém, a bicharada se arrumava como podia. Quem não tinha asas, tentava improvisá-las de alguma forma. No entanto, quando o Sapo disse que iria à festa, todos gargalharam, afinal, tudo o que ele fazia era ficar em cima da vitória-régia, observando os companheiros de chão, sem providenciar nada.
Quando chegou a grande hora, aproveitando-se da correria dos seus companheiros, o Sapo, muito malandro, enfiou-se dentro da viola do Urubu, e ficou lá quietinho, esperando a hora da decolagem. O Urubu, sem suspeitar de nada, passou a mão na viola e voou mais que depressa, pois integraria a banda que tocaria naquela noite. Quando chegou lá, encostou a viola e foi cumprimentar os seus companheiros e o Sapo, aproveitando desse momento de distração, saltou fora e foi se esconder debaixo da mesa de comes e bebes. Mais tarde, quando boa parte da bicharada já havia chegado, saiu de mansinho como se tivesse acabado de chegar, e misturou-se aos outros convidados. Quando os outros animais viram o Sapo dançando no salão, ficaram admirados, perguntando entre si como ele tinha conseguido chegar lá.
Lá pelas tantas, após encher a barriga e beber até não agüentar mais, o Sapo achou prudente voltar para a viola, já que o Urubu havia dado uma pausa para se abastecer e, após se certificar que não havia ninguém observando, meteu-se de novo no fundo da viola. Quando a festa terminou, o Urubu despediu-se dos amigos e pegou a sua viola. Mas como o Sapo havia comido e bebido demais, ficou muito pesado e, no caminho de volta, o Urubu ficou intrigado, pois estava tendo muita dificuldade para manter o vôo. Ao olhar dentro da viola, viu aqueles dois olhões no fundo e matou a charada:
- Ah, seu folgado! Então você me usou para chegar ao céu? Pois agora você não me escapa! Vou jogá-lo daqui de cima para você se esborrachar e aprender a nunca mais ser tão atrevido! – o Sapo, com os olhos esbugalhados de medo, observou a grande pedra logo abaixo e pensou rápido.
- Por favor, companheiro Urubu... Não me jogue na lagoa porque eu vou me afogar. Pode me jogar daqui mesmo, assim eu vou planando até aterrissar em cima daquela pedra lá em baixo... E obrigado pela carona!
O Urubu, furioso com a audácia do Sapo, voou mais alguns metros e atirou o sapo bem em cima da lagoa. O sapo, após mergulhar e voltar à tona, gritou para o Urubu que ainda voava em círculos para ver o sapo boiar afogado:
- Rá Rá Rá! Enganei o bobo, na casca do ovo! De novo! Você é muito burro, companheiro Urubu... Se você tivesse se livrado de mim antes, agora eu estaria todo esborrachado na pedra... Agora, eu vou dormir tranquilo com a minha barriga cheia!
Furioso, o Urubu não se conformava:
- Tudo bem, Sapo Safado! Ano que vem tem festa de novo! Quero ver o que você vai fazer para entrar no céu!
- Até lá, companheiro Urubu, já terei muitos outros companheiros para me dar carona, afinal, enquanto o senhor tocava deslumbrado, eu, com esses meus dois olhos enormes, observei todo mundo e sei bem quais as aves que esconderam salgados na asa... Talvez me dêem até um passaporte diplomático...
Moral da história: Todo o cuidado com Sapo é pouco!