fevereiro 24, 2011

Trava Língua no Posto da Previdência




Pobre Rosicleide Cruz,
Passando por problemas psíquicos, e
Portando os protocolos precisos,
Procurou o posto da Previdência de Palhoça,
Pensando providenciar pensão,
Porque prostrada,
Pressionada pela pobreza e
Pela prole que pedia pão,
Precisava.
Porém, o perito,
Poderoso em palavras e prognósticos,
Proferiu parecer de praxe,
Prejudicando a pedinte.
Perdendo a paciência, a
Paciente partiu pra cima,
Partindo em pedaços o posto.
Papagaios de piratas,
Pediram a pele da pobre
Polícia, prisão e processo.
Por que paga o pato o povo, se
Políticos e parlamentares
Prometendo priorizar os pobres,
Pregam a passividade?
Pobre Rosicleide Cruz...
Precisando da proteção do poder público,
Pôde perceber na pele, que  
Partido político no poder, só
Preocupa-se com propina!

fevereiro 18, 2011

Vale a Pena?


 
E no SINE (Sistema Nacional de Emprego)...

- Mas o senhor não tem nenhuma experiência em carteira?
- Eu tô pegando qualquer coisa, moça... Tenho dois filhos pra sustentar...
Eu tenho feito alguns “bicos” por aí, tudo na área de construção mesmo, com vizinhos, a senhora sabe...
- E a escolaridade?
- Eu fiz só até a terceira série...
- O senhor não concluiu o ensino médio?
- É que na roça, onde eu morava, a escola ficava tão longe que não dava pra ir todo dia...
- Olha, meu senhor, eu lamento, mas, no momento, as empresas estão contratando só pessoas qualificadas e exigindo no mínimo o ensino médio. Eu aconselho o senhor a procurar um supletivo, concluir os seus estudos e buscar uma qualificação profissional. Então o senhor volta aqui pra ver se a gente consegue uma vaga de servente de pedreiro...
- Mas até lá os meus filhos já morreram de fome!
- O senhor pode fazer o seu cadastro para receber o bolsa-família...
- Mas eu não quero esmola, moça... Eu posso e quero trabalhar!
- Lamento, senhor. Isso é tudo o que eu posso fazer pelo senhor....
- E o que aconteceria se eu perdesse a cabeça e saísse por aqui dando porrada em todo mundo? Será que aí iam me arrumar um emprego?
- Bem, nesse caso, o senhor seria preso por agressão a um funcionário público e ia pra cadeia! Será que compensaria?


Auxílio-reclusão:

O auxílio-reclusão é um benefício devido aos dependentes do segurado recolhido à prisão, durante o período em que estiver preso sob regime fechado ou semi-aberto. Não cabe concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que estiver em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto.

Para a concessão do benefício, é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos:

- o segurado que tiver sido preso não poderá estar recebendo salário da empresa na qual trabalhava, nem estar em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço;
- a reclusão deverá ter ocorrido no prazo de manutenção da
qualidade de segurado;
- o último salário-de-contribuição do segurado (vigente na data do recolhimento à prisão ou na data do afastamento do trabalho ou cessação das contribuições), tomado em seu valor mensal, deverá ser igual ou inferior aos seguintes valores, independentemente da quantidade de contratos e de atividades exercidas, considerando-se o mês a que se refere:
PERÍODO
SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO TOMADO EM SEU VALOR MENSAL
A partir de 1º/1/2011
A partir de 1º/1/2010
A partir de 1º/1/2010
R$ 798,30 – Portaria nº 350, de 30/12/2009
De 1º/2/2009 a 31/12/2009
R$ 752,12 – Portaria nº 48, de 12/2/2009
De 1º/3/2008 a 31/1/2009
R$ 710,08 – Portaria nº 77, de 11/3/2008
De 1º/4/2007 a 29/2/2008
R$ 676,27 - Portaria nº 142, de 11/4/2007
De 1º/4/2006 a 31/3/2007
R$ 654,61 - Portaria nº 119, de 18/4/2006
De 1º/5/2005 a 31/3/2006
R$ 623,44 - Portaria nº 822, de 11/5/2005
De 1º/5/2004 a 30/4/2005
R$ 586,19 - Portaria nº 479, de 7/5/2004
De 1º/6/2003 a 31/4/2004
R$ 560,81 - Portaria nº 727, de 30/5/2003


Equipara-se à condição de recolhido à prisão a situação do segurado com idade entre 16 e  18 anos que tenha sido internado em estabelecimento educacional ou congênere, sob custódia do Juizado de Infância e da Juventude.
Após a concessão do benefício, os dependentes devem apresentar à Previdência Social, de três em três meses, atestado de que o trabalhador continua preso, emitido por autoridade competente, sob pena de suspensão do benefício. Esse documento será o atestado de recolhimento do segurado à prisão .

O auxílio reclusão deixará de ser pago, dentre outros motivos:
- com a morte do segurado e, nesse caso, o auxílio-reclusão será convertido em pensão por morte;
- em caso de fuga, liberdade condicional, transferência para prisão albergue ou cumprimento da pena em regime aberto;
- se o segurado passar a receber aposentadoria ou auxílio-doença (os dependentes e o segurado poderão optar pelo benefício mais vantajoso, mediante declaração escrita de ambas as partes);
- ao dependente que perder a qualidade (ex.: filho ou irmão que se emancipar ou completar 21 anos de idade, salvo se inválido; cessação da invalidez, no caso de dependente inválido, etc);
- com o fim da invalidez ou morte do dependente.

Caso o segurado recluso exerça atividade remunerada como contribuinte individual ou facultativo, tal fato não impedirá o recebimento de auxílio-reclusão por seus dependentes.

  • Como requerer o auxílio-reclusão

    O benefício pode ser solicitado por meio de agendamento prévio, pelo portal da Previdência Social na Internet, pelo
    telefone 135 ou nas Agências da Previdência Social, mediante o cumprimento das exigências legais.

    Importante: Se foi exercida atividade em mais de uma categoria, consulte a relação de documentos de cada categoria exercida, prepare a documentação, verifique as exigências cumulativas e solicite seu benefício.
o        Dependentes
§         Esposo (a) / Companheiro (a)
§         Filhos (as)
§         Pais
§         Irmãos (ãs)
Serviço nas agências da Previdência Social:
Fonte: http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22

fevereiro 17, 2011

Em Ritmo e Carnaval


Reunião de Bacana Autores: Ary do Cavaco & Bebeto di São João.

Se gritar "pega ladrão"
Não fica um, meu irmão
Se gritar "pega ladrão"
Não fica um

Você me chamou para esse pagode
E me avisou: "aqui não tem pobre"
Até me pediu pra pisar de mansinho
Porque sou da cor, eu sou escurinho
Aqui realmente está toda a nata
Doutores, senhores, até magnata
Com a bebedeira e a discussão
Tirei a minha conclusão

Se gritar "pega ladrão"
Não fica um, meu irmão
Se gritar "pega ladrão"
Não fica um

Lugar meu amigo é minha baixada
Que ando tranqüilo e ninguém me diz nada
E lá camburão não vai com a justiça
Pois não há ladrão e é boa a polícia
Lá até parece a Suécia bacana
Se leva o bagulho e se deixa a grana
Não é como esse ambiente pesado
Em que você me trouxe para ser roubado

Se gritar "pega ladrão"
Não fica um, meu irmão
Se gritar "pega ladrão"
Não fica um

fevereiro 16, 2011

A Festa no Céu



A bicharada estava em alvoroço, pois todos haviam recebido um convite para a grande festa no céu, porém somente as aves estavam tranquilas, pois eram as únicas que tinham asas e poderiam atingi-lo facilmente. O céu já estava preparado para a grande festa: os salões dourados já estavam ornados com flores frescas; os tapetes de nuvens, alvos e macios; as harpas, afinadas e a lua, que já havia dado as últimas instruções às inúmeras estrelas reluzentes para que não faltasse brilho à ocasião, já havia colocado os eu vestido de noite. Na terra, porém, a bicharada se arrumava como podia. Quem não tinha asas, tentava improvisá-las de alguma forma. No entanto, quando o Sapo disse que iria à festa, todos gargalharam, afinal, tudo o que ele fazia era ficar em cima da vitória-régia, observando os companheiros de chão, sem providenciar nada.

Quando chegou a grande hora, aproveitando-se da correria dos seus companheiros, o Sapo, muito malandro, enfiou-se dentro da viola do Urubu, e ficou lá quietinho, esperando a hora da decolagem. O Urubu, sem suspeitar de nada, passou a mão na viola e voou mais que depressa, pois integraria a banda que tocaria naquela noite. Quando chegou lá, encostou a viola e foi cumprimentar os seus companheiros e o Sapo, aproveitando desse momento de distração, saltou fora e foi se esconder debaixo da mesa de comes e bebes. Mais tarde, quando boa parte da bicharada já havia chegado, saiu de mansinho como se tivesse acabado de chegar, e misturou-se aos outros convidados. Quando os outros animais viram o Sapo dançando no salão, ficaram admirados, perguntando entre si como ele tinha conseguido chegar lá.

Lá pelas tantas, após encher a barriga e beber até não agüentar mais, o Sapo achou prudente voltar para a viola, já que o Urubu havia dado uma pausa para se abastecer e, após se certificar que não havia ninguém observando, meteu-se de novo no fundo da viola. Quando a festa terminou, o Urubu despediu-se dos amigos e pegou a sua viola. Mas como o Sapo havia comido e bebido demais, ficou muito pesado e, no caminho de volta, o Urubu ficou intrigado, pois estava tendo muita dificuldade para manter o vôo. Ao olhar dentro da viola, viu aqueles dois olhões no fundo e matou a charada:

- Ah, seu folgado! Então você me usou para chegar ao céu? Pois agora você não me escapa! Vou jogá-lo daqui de cima para você se esborrachar e aprender a nunca mais ser tão atrevido! – o Sapo, com os olhos esbugalhados de medo, observou a grande pedra logo abaixo e pensou rápido.
- Por favor, companheiro Urubu... Não me jogue na lagoa porque eu vou me afogar. Pode me jogar daqui mesmo, assim eu vou planando até aterrissar em cima daquela pedra lá em baixo... E obrigado pela carona!

O Urubu, furioso com a audácia do Sapo, voou mais alguns metros e atirou o sapo bem em cima da lagoa. O sapo, após mergulhar e voltar à tona, gritou para o Urubu que ainda voava em círculos para ver o sapo boiar afogado:

- Rá Rá Rá! Enganei o bobo, na casca do ovo! De novo! Você é muito burro, companheiro Urubu... Se você tivesse se livrado de mim antes, agora eu estaria todo esborrachado na pedra... Agora, eu vou dormir tranquilo com a minha barriga cheia!

Furioso, o Urubu não se conformava:

- Tudo bem, Sapo Safado! Ano que vem tem festa de novo! Quero ver o que você vai fazer para entrar no céu!
- Até lá, companheiro Urubu, já terei muitos outros companheiros para me dar carona, afinal, enquanto o senhor tocava deslumbrado, eu, com esses meus dois olhos enormes, observei todo mundo e sei bem quais as aves que esconderam salgados na asa...  Talvez me dêem até um passaporte diplomático...

Moral da história: Todo o cuidado com Sapo é pouco!

fevereiro 14, 2011

E agora, mãe?

- Mãããããe! A gente tem dever de casa pra fazer! – grita a menina da sala
- Filha, agora não dá... Vai fazendo o seu dever sozinha aí que quando der a mamãe ajuda! – responde a mãe da cozinha!
- A professora disse que a senhora tem obrigação de me ajudar!
- Como é que é? – A mãe aparece na porta
- A professora disse que a tarefa de casa é obrigação dos pais também, que eles têm que participar mais da escola dos filhos...
- Então fala pra sua professora que é para ela vir fazer a marmita do seu pai também...
- Mas mãe, eu não sei fazer sozinha... Se a senhora não me ajudar, vou tirar zero...
- Tá bom... Tá bom! – a mãe abaixa o fogo da panela e senta-se, visivelmente irritada, ao lado da filha. - Cadê o dever?
- Tá aqui, mãe!  - a mãe pega o papel xerocado e lê em voz alta:
- “Procurar em jornais ou revistas reportagens sobre cidadania, desenvolvimento sustentável e diversidade (recortar, colar no caderno e copiar todas as palavras com mais de três sílabas)”.
- E agora, mãe? A senhora usou o jornal pra forrar a casinha do Rex...
- Calma, filha! Acho que ainda tem uma revista “Caras” em algum lugar...

fevereiro 13, 2011

O Homem do Saco



Seu Adalberto Pé-Ligeiro ia devagar pela estrada, levando às costas o velho saco de linhagem, mas ao passar pelo mata-burro, percebeu os homens armados com o porrete vindo em sua direção. A princípio, não compreendeu o fato e só se deu conta de que o caso era com ele quando olhou em volta e não havia mais ninguém na estrada. Então teve certeza de que a encrenca era feia e começou a correr o mais rápido que podia, sendo perseguido pelos homens:

- Pega! Pega! Segura o safado!

Não sabia o que estava acontecendo, mas diante da fúria dos opositores, sabia que a coisa ia ficar preta e não queria pagar pra ver. Mas Pé-Ligeiro, como o próprio apelido já indicava, não era fácil de ser pego! Correu tanto e tão rapidamente que logo os homens haviam ficado na poeira. Então parou na curva para tomar fôlego e matutar que diabos estava fazendo ele ali, correndo igual um leitão perseguido.

- Pega o canalha! Segura o sem vergonha!

Olhou para trás e a multidão havia aumentado. Agora havia também homens com enxada, foice, martelo... Mulheres munidas com panelas... Retomou a corrida desesperado, sem acreditar em tudo aquilo. Que estaria acontecendo? Por anos a fio percorrera o mesmo caminho, cobrindo léguas a pé, da chácara até a cidade, sem nunca antes ter sido importunado. O que estaria motivando tamanha fúria contra a sua pessoa? Durante todos aqueles anos, décadas, havia sido uma pessoa reservada, porém gentil com todos. E durante todas aquelas décadas tivera a delicadeza de cumprimentar os transeuntes com os quais se deparava no caminho, dando atenção a todos os que pediam informação... Não estava entendendo nadica versus nada do que estava acontecendo. Mas a turba vinha... e vinha que vinha...

Após correr sem mais pausa, vislumbrou a cidade. Correu ainda o mais rápido que pôde, mas logo que se aproximava, percebeu que havia outra multidão vindo em sentido contrário.

- Pega! Mata! Aleija!

Sentiu as forças se esvaindo e, caindo por terra, deixou-se abandonar à violência daquela injustiça! Fechou os olhos e agarrou-se à medalha de São Expedito que trazia sempre presa ao peito e rogou ao céu que lhe valesse naquele momento de aflição. Ouviu a sirene da polícia e o pipocar dos tiros de gás no exato momento em que sentira os primeiros golpes sendo desferidos.

- Para trás! Para trás todos! Agora é com a gente!
- Bate nesse cretino! Mata esse ladrão!
- Pedófilo! – alguém gritou longe
- Evacuar! – ouviu o grito forte e o estrondo cada vez mais próximo

Na delegacia, tentando enxugar o suor e o sangue do rosto na beirada da camisa, foi metido na sala dos investigadores:

- Desembucha logo! Onde estão os dólares? – disse o primeiro homem.
- Dólares? – repetiu atordoado
- O dinheiro, cacete! Onde está o maldito dinheiro?
- Que dinheiro?
- Deve estar no saco, inspetor! – disse outro

Tomaram-lhe o saco.
- Onde você roubou estas galinhas?
- As galinhas são minhas! – tentou retrucar
- Fala, safado! Além de sonegação fiscal e desvio de verba, agora também rouba galinhas, seu vagabundo? – sentiu um sopapo na cabeça que o fez curvar-se.
- Que verba, doutor? As galinhas são minhas! Eu crio e vendo as galinhas no mercado...
- Tá achando que aqui tem algum mané, vagabundo?
- Não senhor...
- Já conhece a rotina, né, pilantra? Então dá logo o serviço! Onde está o corpo?
- Corpo? Que corpo, doutor? – estava assustado
- O da sua mãe, seu viado! – sentiu outro sopapo na nuca – É claro que a gente tá falando do prefeito!
- Mataram o prefeito, meu santo!?
- Bota esse marginal na cela com os outros...

No jornal da tarde saiu todo o escândalo: Numa CPI da câmara, apurou-se que o Sr. Adalberto Silva, vulgo Pé- Ligeiro, estaria envolvido na máfia dos caça-níquel, prostituição infantil, desvio de verbas do hospital municipal, sonegação de impostos, assassinato do prefeito e furto de galinhas. Zé-Ligeiro foi condenado dez meses depois por todos os crimes, inclusive o do assassinato do prefeito, cujo corpo, diga-se de passagem, nunca fora encontrado.

fevereiro 11, 2011

Pau que dá em Chico...

" Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada”

Estória para Descontrair Bois

Ao adentrar a ante-sala do gabinete, o homem começou a ficar tímido. Diante do olhar de reprovação das pessoas e da loura secretária, que o olhou de cima a baixo fingindo estar muito ocupada com alguma coisa na tela plana do computador, ele começou a sentir as mãos subitamente úmidas, ainda que o ar-condicionado estivesse ligado. Olhou para o chão, tomando consciência de sua triste figura naquele macacão que contrastava com a madeira encerada do chão e com aqueles sapatos de camurça, mas tomou coragem ao reconhecer a pequena bandeirinha com a estrela sobre a mesa e se aproximou. Quando falou, quase não conseguiu pronunciar as últimas sílabas, que saíram estranguladas como se um fio invisível e opressivo tivesse sido apertado, obrigando-o a emitir um som cada vez mais gutural. Recebeu a resposta lacônica de que o vereador ainda não havia chegado e que, se quisesse, poderia aguardar.

Já havia esperado, de pé, quase hora e meia em constrangido silêncio quando o vereador cruzou a porta do gabinete e, após um breve aceno com a cabeça para todos, abriu uma porta e sumiu da vista, sendo seguido pela moça loira que juntou um monte de papéis que estavam sobre a mesa. Esperou pacientemente por mais alguns minutos, quando a moça voltou e chamou o nome de uma senhora gorda, que aguardava no sofá. Depois dela, o senhor de paletó cinza e pasta escura, a senhora de verde-oliva, o homem calvo, de barba espessa, o jovem de óculos... Um a um, todos foram sendo chamados e ele sentou-se e aguardou pacientemente, evitando o olhar de soslaio da secretária, vez ou outra. E quando já esperava ser o próximo a ser chamado, ouviu o jovem, que havia chegado bem depois, ser chamado. Olhou sem entender os critérios e teve vontade de reclamar, mas se conteve e esperou. Quando o vereador apareceu novamente na porta, foi com surpresa que compreendeu que ele estava de saída e levantando, fez-se presente. Com declarado desagrado, foi convidado a entrar no gabinete e a sentar-se.

- Então, Sr...?
- Natanael...
- Bem, então, Seu. Natanael... O que eu posso fazer pelo senhor? Quem o indicou?
- Eu vim procurar o senhor a pedido dos meus companheiros da fábrica... É que quando o doutor teve lá na porta da firma, o doutor disse que a gente podia contar com o apoio do Partido...
- Apoio para quê? 
- É que está chegando a data-base e o pessoal lá da firma se reuniu no sindicato e resolveu que se o patrão não der o aumento que a gente tá pedindo, a gente vai fazer greve. A gente tá querendo o apoio do Partido...
- Sr... Natanael, não é? – o homem assentiu – O senhor sabe que não é assim que as coisas se resolvem. A greve deve ser a última alternativa... Qual é mesmo o sindicato que o senhor representa? – o homem disse – Pois é, senhor... Natanael, hoje em dia o país está mudado e as coisas não se resolvem mais da mesma maneira...
- Mas quando o doutor esteve lá na firma, o senhor falou que a gente tinha que lutar pela valorização do nosso trabalho e exigir melhor salário...
- E o salário não melhorou?
- Só se for para o doutor... Pra gente, continua a mesma m...
- Sr. Natanael... Se eu pudesse, aumentaria o salário de todos os trabalhadores do Brasil, mas não é assim que funciona...
- Mas quando a Petrobrás, a Mercedes, a Fiat fez greve, o partido apoiou...
- Ah, mas aí foi diferente... Nesses casos, o salário estava muito defasado...
- Doutor, andam dizendo por aí que o Partido só apóia os sindicatos da elite dos trabalhadores... Que os outros trabalhadores, quando precisam de apoio, se f...
- Isso não é verdade. O Partido tem trabalhado sempre em prol da valorização do trabalhador... Lá na empresa onde o senhor trabalha não estão fornecendo a cesta básica? O vale-transporte não está sendo distribuído?
- Sim, mas não é isso o que a gente quer, doutor. Isso tudo daí que o senhor citou a gente já recebe há muito tempo. O que a gente quer agora é salário... Salário....
- Se não me falha a memória, foi justamente nesta empresa que o senhor trabalha que foi implantado um programa de jovem aprendiz e de supletivo...
- Sim, doutor, é verdade. Mas não é disso que a gente tá falando...
- Além do mais, o senhor não pode se esquecer de que há muitas pessoas na economia informal que dariam um bonde para terem a carteira assinada... O Partido tem buscado alternativas para inserir essa parcela da população no mercado e por isso está apoiando as empresas a investir na qualificação do trabalhador...
- Mas doutor...
- Se as empresas estão investindo na qualificação, não podem aumentar os salários, o senhor concorda comigo?
- Mas...
- Então ficamos assim, Sr... Natanael, não é? Pois é, Sr. Natanael... Os senhores procurem lá o seu patrão e negociam... Estamos num país democrático, não é mesmo? Tudo é negociável... Agora o senhor vai me dar licença que eu tenho um compromisso muito importante... Mas lembre-se: Se o senhor e o sindicato precisarem do apoio do Partido, venha conversar com a gente... Conversando a gente se entende não é?

fevereiro 08, 2011

Para Não Dizer Que Não Falei do Folclore

Era uma vez um ParTido,
Que tinha por triste destino,
Só trabalhar com Lalau´s.
Cortava os dedos na aposta,
Passava o trator do MST na roça
Para acabar com o laranjal.

Como Roberto Jacobyartes
Era visto na Bienal de Arte,
Mas escondendo a verba no fiofó,
Pois tal qual uma hiena,
Foi que ele desviou sem pena
É mentira, Terta? Não, Pedro Bó?

Caiu na CPI da roubalheira,
Que se transformou em bandalheira,
No episódio do Mensalão.
E, por mais mentiroso que fosse,
Dessa maneira mostrou-se,
O grande embuste da Nação.

Mas virá um dia o castigo,
Desse iscariotes partido
Quando o povo cair em si.
E para o sossego da gente,
Ele passará de decente
No traidor do Brasil.