março 25, 2011

Política dos Raivosos Mau Humorados







Seu Joaquim caminhava pelas ruas de São Paulo e conversava com seus botões. Tinha viajado a trabalho e, em suas horas de folga, saiu para conhecer a cidade. Num certo momento, parou numa banca para comprar o jornal do dia e deparou-se com uma notícia sobre o palhaço eleito para a Câmara dos Deputados. Alguém parou junto dele e, observando também o jornal exposto, comentou algo sobre os paulistas terem feito uma piada de mau gosto que se voltou contra eles. Joaquim ficou então se perguntando o que teria influenciado o povo paulista a uma votação tão expressiva numa pessoa tão pouco qualificada para o cargo... Pagou o jornal e foi andando...


 
Mais tarde, passando por uma loja de eletrodomésticos, parou em meio à multidão junto ao meio fio para assistir a recepção da presidente a Barack Obama e sua esposa. Alguém comentou que, enfim, as mulheres haviam conquistado um espaço na sociedade brasileira e, outro, que mais importante ainda era ver um negro ocupar o cargo mais importante do mundo. Observando os semblantes, no entanto, Seu Joaquim não viu orgulho, nem sequer uma sombra sutil de satisfação. Pelo contrário, notou diversas bocas contraídas, sobrancelhas franzidas e, em alguns casos, um rancor levemente estampado na expressão de vingança.

Continuou caminhando e, ao virar uma esquina, ficou constrangido com a demonstração clara de insatisfação por parte de um grupo de evangélicos com a fumaça que exalava do seu cigarro. Rapidamente, jogou o cigarro no chão e amassou-o com o seu sapato. Olhou para o grupo à procura de uma aprovação para o seu ato e percebeu, com surpresa, que a consternação pareceu aumentar. Alguém comentou que os fumantes deveriam ser obrigados a engolir os tocos que deixavam pelo chão, sujando a cidade. Baixou a cabeça e continuou andando.


Ao chegar a uma praça, sentou-se num dos bancos e abriu o jornal. Mal havia começado a folheá-lo quando percebeu o grupo de adolescentes no ponto de ônibus. Um jovem gordinho se atracava em uma simulada luta com outro jovem, enquanto os demais adolescentes do grupo se divertiam e atiçavam-nos. “Aee, Free Willy!”. Repentinamente, não se sabe de onde, surgiu uma senhora com cara de poucos amigos e interveio na brincadeira. Os jovens argumentaram que aquilo tudo era uma brincadeira entre amigos, porém a senhora, agora identificada como professora, repreendeu-os dizendo que bullying era crime. Ameaçou-os de delação e acabou com a festa!


Mais tarde, quando sentiu fome, Seu Joaquim resolveu perguntar a uma senhora onde poderia encontrar uma boa churrascaria naquelas redondezas. Não imaginava o discurso raivoso que se seguiria e só compreendeu a atitude quando percebeu que a mulher era uma vegetariana. Apressadamente pediu desculpas e saiu dali quase correndo em direção ao metrô, não antes de ter que se desviar de um militante afoito do movimento dos “Sem Teto”. Já no metrô, retomando a respiração, foi surpreendido pela mão obscena e pela pergunta à queima-roupa: “O senhor tem preconceito?” Seu Joaquim negou sem certeza, afastando-se da mão que o afagava discretamente. Ouviu o rapaz resmungar alguma coisa sobre homofobia e, incomodado pelos olhares repreensivos de outros usuários, desceu tão logo percebeu a porta aberta.


 Ao chegar ao hotel, faminto e exausto, percebeu novamente o jornal debaixo do braço. Passou os olhos pelas notícias e compreendeu, enfim, o porquê do palhaço ter sido eleito. A falta de liberdade da população em geral e o mau-humor dos raivosos politicamente corretos se auto-explicavam.




Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Coitadinho do Seu Joaquim...tão off...tão demodèe!!!
    A falta de liberdade do cidadão brasileiro frente à falsa democracia do pensar, do ir e vir, de direitos e só de direitos, faz crescer as faculdades de direito. Por que será???

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